Art Meeting Point – Vitória Frate

Como e quando é que percebeste que, para além de atriz, querias ser artista?
Desde criança sempre fui muito ligada às artes. Fui uma criança muito introspetiva. Ler, escrever e desenhar sempre foram as minhas paixões. Antes de me formar em artes cénicas estudei jornalismo e fotografia. Então, na verdade, quando interrompi a minha carreira de atriz para me dedicar as artes visuais foi, de certa forma, um retorno ao meu desejo original. Desenhar e pintar para mim sempre vieram de forma tão natural que demorei muito para entender que aquilo também poderia ser trabalho. Foi pelo olhar de fora que entendi que o meu trabalho tinha valor e era de facto trabalho. Eu estava insatisfeita com a carreira de atriz e me dei uns meses para repensar a vida. Fui viajar e nessa viagem desenhei tudo o que vi pela frente. Eu ia desenhando e publicando na internet. Quando percebi tinha criado um público para os meus desenhos e resolvi mergulhar de cabeça nesse universo.

Sentes que trazes muita “bagagem” de todos os sítios onde já viveste? Até que ponto é que isso influencia a tua arte?
A minha arte é o resultado daquilo que vi e vivi então é inevitável que o facto de ter vivido em muitos países diferentes apareça na minha arte. Acontece a mesma coisa com as diferentes profissões. Com todas as pessoas e experiências. Tudo vira repertório.

Para além da influência de todos os locais por onde já passaste e viveste, há mais elementos que a influenciam os teus quadros e ilustrações? De onde vem esta relação com as cores tão vibrantes?

Uma das minhas características que mais me ajuda no processo criativo e mais me atrapalha na minha vida quotidiana é uma extrema sensibilidade. Me sinto muito afetada pelo mundo que me cerca. Cores, cheiros, sons, coisas que escuto, uma luz que entra por uma janela e ilumina poeiras dançando no ar, uma senhora que passa na rua e me dá um sorriso sincero… tudo me toca, me modifica e se transforma em fonte de inspiração para o meu trabalho.
Talvez por isso as cores tão vibrantes. É como vejo o mundo. Muito pulsante, muito vivo.

Como é viver de duas profissões artísticas? É fácil conjugar as duas artes?
Acho que elas se complementam. Já tem uma década que o meu foco está voltado para a pintura. Mas tudo o que vivi na minha trajetória como atriz me ajuda a navegar o mundo da arte. A Vitória atriz ajuda a Vitória artista a ser mais prática e objetiva, a fazer conexões para colocar o trabalho no mundo e a sobretudo a desapegar do trabalho. O que nem sempre é fácil.

A tua filha Carolina é também uma inspiração para te explorares artisticamente?
Carolina é a minha maior inspiração para tudo. Não consigo separar a mãe da profissional. Na minha vida tudo se atravessa. A maternidade me transformou completamente, então transformou também o meu trabalho. Além disso, é maravilhoso ter Carolina por perto quando estou trabalhando. Ela se interessa muito por toda forma de expressão artísticas e é muito criativa. Então trabalhar com ela ao meu lado é sempre muito inspirador. Quando ela está concentrada obviamente. Também tem os dias em que ela me solicita a cada 5 minutos e aí não tem criatividade que dê conta. Mas faz parte da vida de mãe. Ela faz eu querer ser uma mulher mais potente e plena a cada dia e isso me ajuda demais.